(Português) Revista – SOUNDI

(Português) Revista – SOUNDI

Floor Jansen para a revista finlandesa SOUNDI de dezembro.

12_14_a (Português) Revista - SOUNDI

Tradução: Head up High, sua melhor referência sobre a Floor e o Nightwish  😉

Nos últimos anos, houve muito drama na vida de Floor Jansen, a cantora que recebeu um chamado urgente para assumir os vocais do Nightwish. Agora, felizmente, a fase turbulenta das mudanças dentro da banda ficou para trás e a cantora holandesa passou a se sentir confortável tanto nos arredores de Joensuu como no Nightwish em si. Floor não aparecerá muito na Karelia do Norte nos próximos meses e a agenda apertada do Nightwish confirma isso.

É meio-dia e Floor Jansen caminha em direção ao saguão do hotel, em Helsinki. “Bom dia! Como vai?”, ela nos com seu finlandês fluente. Realizamos nosso compromisso exatamente ao meio-dia, conforme a vontade da cantora, o que indica o quão rígido seu trabalho é. Ela passou a última noite em uma poltrona, sobre asas de um avião branco e azul, em sua viagem dos Estados Unidos para a Finlândia.

Hoje, Floor sabe os limites de sua resistência, mas, há alguns anos, a situação era muito diferente. Ela sofreu uma crise de esgotamento físico devido à imensa carga de trabalho com que lidava. Sua recuperação, por outro lado, levou bastante tempo, sendo que o tratamento não havia sido concluído quando o Nightwish entrou em contato.

O caminho percorrido por Floor como a principal figura de uma das bandas finlandesa mais populares dos últimos tempos foi desafiador, agitado e intrigante.  Floor já era conhecida ao lançamento de 5 álbuns de estúdio, pela banda After Forever, que se separou há 5 anos. Mas ela não permaneceu inativa: fundou a banda ReVamp à qual passou a se dedicar em tempo integral. Eis que, em um belo dia de outono, a banda finlandesa entrou em contato…

Ω

Soundi: Durante a sua infância e adolescência, a sua família se mudou muitas vezes. Que tipo de memórias você tem desses anos?

Floor: As memórias mais fortes estão relacionadas às mudanças frequentes entre as cidades em que já morei. Conhecer novas pessoas nunca foi algo fácil pra mim, então eu me sentia desconfortável. Quando eu conseguia fazer novos amigos, nós tínhamos de embalar as coisas e ir embora. Quando eu era mais nova, eu estava por conta própria, ainda que a minha irmãzinha e os meus pais estivessem sempre por perto. As mudanças também tiveram um lado positivo. Eu aprendi logo cedo a me adaptar a novos lugares e percebi que a sua casa pode ser qualquer lugar. Quando você se sente confortável e seguro, qualquer lugar do mundo é a sua casa.

Soundi: Há uma foto no seu site, de 1983, na qual você está posando com fones de ouvido. A música parecia ser uma parte da sua vida desde cedo.

Floor: Meus pais não eram músicos, mas o meu pai gostava muito de música. Cantores e bandas como Santana, Sting e os Beatles, por exemplo, acabaram se tornando figuras conhecidas para mim. Eu também me lembro claramente dos cafés-da-manhã longos aos domingos e da música clássica que sempre tocava ao fundo. O ambiente em que cresci sempre me estimulou à música e o meu pai, inclusive, chegou a me ensinar o básico para tocar guitarra.

 Soundi: Quais instrumentos você sabe tocar? 

Floor: Eu toquei flauta por muitos anos, então esse é o meu forte. De certa forma, eu consigo produzir arranjos mais delicados com a guitarra, o baixo e o piano.

Soundi: E o canto? Como e quando você se viu interessada nisso?

Floor: Por causa de um musical escolar baseado na adaptação feita por Andrew Lloyd Webber. Quando eu fui à escola, eles estavam à procura de pessoas dispostas a criar um projeto musical e eu decidi participar de um teste de canto. Eu fui selecionada para o projeto de dois anos e eu aprendi bastantes coisas coisas durante esse período. Ao mesmo tempo, eu me juntei à banda da escola e estive um estúdio de verdade pela primeira vez.

Soundi: Foi sua primeira performance para uma plateia grande?

Floor: Sim, foi! Gostei bastante de estar no palco e percebi que tinha encontrado algo que gostava e sabia fazer. Nós praticamos bastante durante muito tempo, mas, ainda assim, muitos outros artistas chegaram a vomitar devido à ansiedade causada pela simples ideia de pisar no palco. Eu não estava nervosa de forma alguma. Muito pelo contrário, meu corpo estava cheio de adrenalina e eu queria mostrar a todos o que eu sabia fazer. A respeito disso, eu não mudei em tudo, porque sempre gostei de aproveitar as performances. Foi um ótimo momento, eu tinha bons amigos – e depois nos mudamos! Telefones celulares e a internet estavam caminhando ainda, então a comunicação virtual com meus amigos músicos era impossível.

Naqueles dias, eu comecei a ouvir música alternativa, e eu encontrei ótimos artistas como The Doors, Janis Joplin, Nirvana e Pearl Jam. Eu senti que todos os estudantes na minha nova escola ouviam um pouco de House e vestiam roupas horríveis. Eu tinha Doc Martens, (marca inglesa criada na Alemanha em 1946) calças camufladas, camiseta de banda, e eu também pintei meu cabelo com tons difeferentes. Eu parecia insanamente diferente dos outros.

Soundi: Existiam lojas de gravações com seus amigos? Antes da era da internet, encontrar novas músicas poderia ter sido um desafio.

Floor: Felizmente, havia uma boa loja de discos nas proximidades, e eu passava meu tempo ouvindo várias bandas. Um dia eu conheci uma pessoa que gostava consideravelmente de bandas mais pesadas. Carcass e Slayer, eu senti um pouco áspero também, então por exemplo, Machine Head, Pantera, Moonspell and Paradise Lost afetou fortemente. Então eu ouvi Mandylion e do fundo do meu coração, eu fiquei apaixonada pelo álbum. Anneke van Giersbergen com seus vocais, guitarras pesadas criaram uma identidade incrível  na minha mente. Se eu tivesse que escolher, o mais impressionante para mim, seria de longe o Mandylion.

Soundi: Você disse também que estava intimidada na escola.

Floor: Foi um bullying mental – Bullying físico ou até mesmo violência eram coisas dos meninos. O Bullying foi algo muito difícil, ao todo durou 7 anos. Memórias tristes ainda permanecem, embora eu não me importasse com as reuniões de classe. E claro, eu tentei discutir o assunto com o meu professor, mas infelizmente foi algo com espinhos. Era desagradável ir para a escola pela manhã: Quando eu fechava a porta de casa atrás de mim, eu estava por mim mesma.

Soundi: Foi em 1997, com 16 anos de idade, que você se juntou ao After Forever. Como aconteceu? 

Floor: Eu ouvi um intrigante rumor do bairro, que uma banda de Metal estava à procura de uma vocalista feminina. Naqueles dias, After Forever sempre tocava death metal, mas o vocalista masculino se separou da banda semanas depois, e ao mesmo tempo, a banda tinha feito algumas mudanças para seu estilo musical. Então eu me tornei a vocalista. O início do AF foi difícil. Escola e trabalho na semana, encerrava no final de semana totalmente esgotada, mas ía ensaiar com a banda. Os líderes da banda, Sander Gommans e Mark Jansen estavam extremamente sérios com a banda, e eu me sentia um pouco estranha, de como eu poderia dar tudo pela banda. Em 1999, meus planos mudaram: Eu tive uma admissão na recém fundada The Rock Academy em Tilburg e o After Forever teve um contrato de gravação. De repente, a música se tornou o ponto central da minha vida, e eu decidi fazer disso, a minha profissão.

Soundi: Como você se sente hoje, quando ouve o primeiro álbum do After Forever – Prison of Desire, lançado em 2000?

Floor: Eu era uma cantora inexperiente e todos da banda foram inexperientes, então é inútil ouvir de forma crítica ou comparar ao presente estado. O album foi a imagem daqueles dias, e é uma parte muito importante da minha história musical. Devemos manter em mente que cantoras femininas em banda de metal eram raras na época, e eu sou muito orgulhosa do meu status pioneiro. Depois da gravação do Prison of Desire, minha primeira aula de canto não aconteceu tão cedo. Minha professora perguntou: ‘O que você quer aprender exatamente?’ Bem, eu disse: ‘Eu quero aprender a cantar’. Eu não estava realmente apta a descrever aquilo. Depois, até ganhar habilidade, eu entendi o que eu deveria aprender.

 Soundi: O que você gostaria de aprender agora?

Floor: No mínimo ainda há muito o que treinar e digerir dos dois lados. Por exemplo, eu posso cantar de maneira operática, mais alguém entendido no assunto repara que eu não sou uma cantora de opera de verdade. Seria, também, muito interessante um olhar mais profundo nos segredos de cantar o estilo “death metal”.

Soundi: Do ponto de vista de quem está do lado de fora, parece que a carreira do After Forever acabou de repente, em 2009.

Floor: Nós tínhamos um contrato com a Nuclear Blast e a banda estava decolando. Como se não bastasse, Sander Gommans, que havia trabalhado duro pela banda teve “burnout”. Nós ponderamos entre diferentes alternativas: continuaríamos após um hiato ou a banda teria futuro sem o Sander? Mais ou menos um ano depois, percebemos que a chama coletiva não mais ardia. After Forever não parecia algo que pertencia aos nossos corações 100% como antes.  A decisão de descontinuar foi dolorosa, mas em contrapartida, eu estaria errada em relação à ambos os fãs e a nós mesmos, se continuasse de maneira forçada.

Soundi: After Forever estava em hiato, você fundou um projeto “Sinth” com o guitarrista Norueguês Jørn Viggo Lofstad (Pagan’s Mind), embora o Sinth nunca tenha lançado nada.

Floor: Eu estava pra baixo naquele momento, pois 10 anos após o contrato de um primeiro cd, eu estava numa mesa vazia novamente. Eu comecei a trabalhar numa livraria pois estava sem dinheiro. Depois de algum tempo eu decidi criar uma nova banda mesmo sabendo que isso me causaria problemas pois levantar o dinheiro que fosse pelo menos num nível tolerável requeria enormes recursos. Eu fundei o ReVamp no outono de 2009, e comecei trabalhando também, como gerente da banda. Eu consegui fazer isso também por algum tempo, mas em 2011 minhas forças simplesmente acabaram e eu tive um Burnout. Eu gostava de fazer tudo relacionado ao Revamp, mas não percebia que estava trabalhando demais, por muito tempo. Finalmente, tive que admitir a mim mesma que figurativamente eu havia sido atropelada por um trem. Eu percebi que estava totalmente exausta e queria fazer nada além de ficar deitada em casa. Por exemplo, ir ao mercado demandava um grande esforço. Meu Deus, eu estava nos 30, e me sentia como se tivesse 100 anos de idade.

Soundi: Como sua recuperação começou? Quando você começou a se sentir melhor?

Floor: Eu não queria tomar remédios. O que você faz quando está se sentindo cansado? Você descansa. Eu estava tentando descansar esperando que o próximo dia fosse melhor do que o presente. Um pouco depois, eu fui a um terapeuta, já que queria respostas para perguntas, tais como ‘Como eu fui parar nessa situação?’ e ‘O que eu posso fazer para evitar isso no futuro?‘. Aos poucos, eu comecei a me sentir melhor e comecei a pensar num possível futuro com a música. Será que eu poderia trabalhar integralmente como uma professora de música e continuar uma carreira com uma banda como hobby? Eu pensei, pensei…e então recebi uma ligação, que eu nunca poderia esperar receber.

Soundi: Você disse antes que adora se apresentar e não se sente nervosa mesmo numa situação difícil. O Nightwish colocou você num grande teste instantâneo.

Floor: A proposta do Nightwish foi completamente inacreditável: “Oi!, você gostaria de ser nossa vocalista numa tour? Quando? AGORA!” Pareceu ousado, mas eu nem consideraria dizer não. Primeiramente, o momento era excelente, como eu havia dito, eu estava procurando uma direção na vida. O mais desafiador era que eu tinha que correr para Seattle imediatamente e aprender estruturas, letras e melodias vocais do Nw num avião a caminho dos EUA. Felizmente, eu era familiarizada com algumas músicas antigas do Nw pois eu costumava treinar com músicas de álbuns como “Oceanborn” e “Century Child”. Em contrapartida, eu não conhecia muito bem o “Imaginaerum”, então eu o baixei imediatamente. A propósito esses mais ou menos 10 Euros foram os melhores investimentos da minha vida!

Soundi: Como você se sentiu logo antes da primeira apresentação com o Nightwish?

Floor: Como vai ser isso? Eu nem sei, o que eu estou fazendo? Quando a introdução começou a soar, eu percebi o meu horror, e sequer lembrava como a primeira música começava. Por sorte, a letra voltou à minha mente a tempo… então o show transcorreu música por música e em algum instante, ele terminou, e eu tenho uma lembrança muito fraca disso. Cabe lembrar que eu ainda estava em recuperação do burnout quando o Nw me contratou. Os dois primeiros shows com o Nw foram dois grandes testes de resistência, então quando eu suportei a enorme pressão sem desabar, eu reconheci que a minha recuperação estava em boa forma. Foi um sentimento fantástico.

Soundi: E você teve boas notícias na postagem do Nightwish após o show do festival Saunda Open Air, em 2013.

Floor: Nós nos unimos no bar do lobby do hotel e os outros membros da banda perguntaram se eu e o Troy estaríamos interessados em nos juntar permanentemente ao grupo. Certamente, eu tinha um pressentimento que o Nw poderia perguntar isso, mas eu não queria tanta pressão em cima disso. Eu ficaria triste se pensasse, durante os shows que “ah, não, vou tentar curtir agora o máximo que puder, pois em breve será o fim”. E também entendia que o Nw ponderava a situação precisamente, já que uma banda não pode mudar de vocaslita constantemente.

Soundi: Agora, você deixou para trás uma dúzia de grandes shows, como o lançamente “Showtime, Storytime”. As gravações para o oitavo álbum de estúdio também já terminaram.

Floor: Eu nem tento ser objetiva: O novo álbum do Nw é a maior coisa que já fiz em música. Espera, é o melhor álbum de todos! Eu tenho certeza que este álbum levanta o Nw em um novo degrau novamente, já que é algo.. bem, maior e mais especial. Eu sonhei, antes do processo de construção do álbum, que com respeito às linhas vocais, Tuomas me desafiaria ao extremo e eu poderia usar minha voz de maneira tão versátil quanto possível. Bem, eu não poderia ter recebido mais em resposta aos meus desejos. Tuomas introduz as linhas vocais que ele pensou através de demos de teclado, de maneira que sempre haja espaço para interpretações da vocalista e ideias. Nós passamos o verão passado em Röskö, Kitee e gravamos e arranjamos as músicas e examinamos diferentes abordagens. A banda toda estava lá frequentemente e todos podiam dar uma resposta imediata sobre o funcionamento das ideias.

Soundi: O cientista evolucionista Richard Dawkins é um dos convidados do álbum. Esta parte da notícia gerou uma grande tempestade de comentários.

Floor: As mais ferozes opiniões – Tais como ‘Eu vou queimar meus discos do Nw‘ inegavelmente vieram como uma surpresa. Na internet é fácil gritar duras declarações sem pensar intimamente, que não vale a pena parar por um momento antes de pressionar a tecla. Isto deveria ficar claro para todos que o Nw não quer pregar uma ou outra opinião. Se nós queremos algo, é para despertar pensamentos – pensar e pesar coisas, e então formar a sua opinião.

Soundi: Você bem sabe que as pessoas tiram conclusões drásticas rapidamente.

Floor: É realmente estranho de como alguém se preocupa em criar páginas de ódio na internet só porque eu não tenho tempo para conversar ou tirar fotos com ele ou ela depois de um show, por exemplo. Algumas pessoas parecem não entender que de alguma maneira, as vezes não há tempo para isso.

Soundi: Você se mudou para Joensuu no último verão. Como você tomou esta decisão?

Floor: Eu comecei a aprender finlandês na primavera de 2013. E durante o mesmo ano, eu visitei a Finlândia várias vezes, ambos para trabalhar e por estar de férias. Por exemplo, o outono natural, as cores das árvores, etc … Me impressionou muito, e ainda impressiona. Eu também gosto de inverno e neve, embora uma estrada nevada traga desafios para quem que só dirige na Holanda. Então, a primavera deste ano chegou, e eu tive que me mudar de qualquer forma. Eu estava pensando se eu procuraria uma nova casa na Holanda, ou arrumaria minhas coisas e partiria para a Finlândia. Todas as minhas visitas para a Finlândia foram ótimas, e a decisão foi realmente fácil. Eu também quero aprender a falar finlandês fluentemente. Eu não sou finlandesa, mas eu estou me tornando finlandesa rapidamente, e isso é ótimo.

Soundi: Quais coisas finlandesas vieram como uma surpresa?

Floor: Prisma é um grande supermercado! Na Holanda não existem lojas do qual você possa comprar tudo que é possível. Não sei se é uma verdadeira surpresa, mas muitos finlandeses gostam de cozinhar em casa. Por exemplo, nos Estados Unidos, as pessoas estão sempre comendo fora – E eles os chamam de restaurante McDonald’s. Você pode viver na Finlândia sem gostar de sauna, mas é um pouco difícil. Felizmente eu amei a sauna durante o acampamento de verão com o Nw. Uma sauna quente à beira do lago, verão noturno, água morna no crepúsculo …. Há alguma coisa nisso.

Soundi: Existe algum plano pro futuro do ReVamp?

Floor: Naturalmente não existem planos para o ReVamp. Nightwish tem toda minha atenção e eu não quero me comprometer com nada mais. E seria injusto também, para com os outros membros do ReVamp, estabecelermos intenções que não iriam se realizar. Se existe algo importante que aprendi nos últimos anos, é que eu não quero fazer muitas coisas ao mesmo tempo novamente. Eu realmente não quero tudo isso. Quero dizer, começar um novo álbum do ReVamp e planejar uma turnê logo após a turnê mundial do Nightwish. Eu Amo o ReVamp, mas para continuar com a banda, nós precisamos encontrar um tempo adequado.

www.floorjansen.com | www.nightwish.com | www.revampmusic.com

Head up High: Sua fonte mais completa sobre Floor Jansen e Nightwish.

Share this content: